OUSADOS PROJETOS DE MEDIANEIRA QUE NÃO SAIRAM DO PAPEL

Arquitetar ideias, fazer projetos pode ser até fácil quando se vislumbra possibilidades de realizar. Medianeira, como outros tanto municípios, também rabiscou no decorrer do tempo espaços públicos para propiciar lazer com função social, organizacional, cultural e ecológica para fortalecer sua identidade.

Desde sua fundação as mudanças de espaços públicos para circulação e atração são visíveis e atrativos como o Calçadão da Avenida Brasília, Praça Angelo Darolt e Parque 25 de Julho. No entanto, houve projetos que nunca saíram do papel como: Prainha às margeantes do Lago de Itaipu, Parque Ipê na denominada Vila Sapo, Parque Ecológico Recreativo e Histórico dos Pioneiros, a Gruta na queda do Rio das Lavadeiras e travessia da Avenida Brasília por elevadas para passagem de carros, sem afetar a integridade arborizada da Praça Angelo Darolt. Em síntese, a descrição dos projetos que serão postados, um a um, toda semana.

PRAINHA NO LAGO DE ITAIPU

Visual do projeto idealizado em 1997

Mapa do município de Medianeira que faz divisa com o Lago de Itaipu, o que motivou o projeto

Este foi um projeto ousado, considerando que Medianeira é banhada pelo Lago de Itaipu em apenas 500 metros, entre as comunidades Linha São Bernardo e Assentamento Savio,  confluência dos Rio Ocoy e Rio Laranjita vislumbrou-se neste local, na década 90, a possibilidade de implantação da Prainha. Distante apenas 17 quilômetros da cidade, ocuparia parte de área de preservação de Itaipu, onde ficaria o ancoradouro, barcos, piscinas naturais, acesso para barcos, camping, churrasqueiras, módulos sanitários, caminhos de ciclovia, playground  e terminal teleférico. E para complementar o espaço, a Prefeitura Municipal  compraria em anexo uma área privativa para Quadras Esportivas , Centro Cultural, Parques Botânico e Temático, estacionamento, guarita e demais infraestrutura, como bem demonstra o mapa de zoneamento.

PARQUE IPÊ

O Parque Ipê foi idealizado para ser construído no encontro do Córrego Bolinha e Rio Alegria no Bairro Ipê, no local denominado Vila Sapo por ser uma área de alto teor de umidade e grande parte invadida por moradores. O Rio Bolinha seria canalizado que acabou acontecendo e muitas famílias começaram a ser remanejadas para local adequado para dar lugar ao Parque Ipê.

O projeto um tanto ambicioso com uma série de lagoas em formato sinuoso. Na entrada, um caminho todo pavimentado com piso de blocos de concreto para acesso à pista de caminhadas contornada por canteiros circulares de dimensões variadas para plantio de flores e outros complementos de urbanização. Previsto também área para brinquedos, bar, sanitários, espaço para esportes como skate/patins, quadras de areia e poliesportivas.

Como o projeto não saiu do papel, no local foi construído o Parque 25 de julho conjugado com Paço Municipal José Della Pasqua inaugurados em 2018- obras que passaram a dar uma identidade moderna a Medianeira. Foi possível a construção pela transação negociável de permuta do terreno onde se localizava a Prefeitura Municipal na Rua Argentina com as empresas Amboni Construções e Fellini Imobiliária.

Canalização do Rio Bolinha, primeira obra para tornar realidade o Parque Ipê

Paço Municipal e Parque 25 de Julho Cartão Postal de Medianeira construídos no local que fora projetado para o Parque Ipê

 

PARQUE ECOLÓGICO, HISTÓRICO E RECREATIVO DOS PIONEIROS

A Associação dos Professores de Medianeira acalentou por anos o sonho de tornar realidade o Parque Ecológico, Histórico e Recreativo dos Pioneiros, situado na direção norte da cidade, lado direito da BR-277, saída para Foz do Iguaçu, cortado pelo rio Alegria e Rio das Lavadeiras. Uma área verde de 63,6 hectares, única urbana disponível com grande valor histórico por ser a célula “mater” da colonização. Tanto é que nesta célula fora construída Casa da Migração, chamada de República (desmanchada em 1960), Carpintaria e Ferraria (destruída por incêndio em 1958), a primeira barragem para geração de energia e a primeira indústria, um moinho de propriedade de Pedro Belotto Filho, vendido para a Família Zornitta.

Todo esse complexo histórico era forte motivo para a Associação dos Professores Aposentados  concretizar o sonho de criação do parque, que de pronto, recebeu o apoio do colonizador Pedro Soccol  e empresário Hélio Rohde na idealização do projeto. Após visitarem o espaço, sugeriram divisões por identidade histórico-cultural: 1º Sítio Ecológico do Moinho, 2º Pequeno Zoológico e 3º Casa da Cultura Popular. Dessas sugestões brotou o anteprojeto e maquete.  Tanto desenho, quanto a maquete, perpetuou réplica do início da colonização como Igreja, Hospital, Casa de Migração, Cantina, Moinho, Marcenaria, Carpintaria, Ferraria, Escritório da Colonizadora, além de outros complementos. Ocupação prevista de lotes urbanos, chácaras e de espaço nativo/reflorestamento da Cooperativa Frimesa. Áreas que deveriam ser legalizadas por intermediação do poder público.

     A ideia de resgate da memória, criando uma infraestrutura básica e aproveitando o que ainda existia como referência histórica, cultural e ecológica para imortalizar a colonização e servir para lazer, eventos e visitações, nunca saiu do papel. Como só ficou no anteprojeto, as áreas continuam privadas e preservadas sob a supervisão do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Uma das áreas é do empresário Edimar João Antoniolli (Careca), outra da Cooperativa Frimesa que transformou uma parte em Parque Ambiental Frimesa, além de chácaras/terrenos de particulares. (Da Redação Mirtis/ Pesquisa- Fotos Arquivo Mosaicos e de Hildegarde Rohde)

Montagem da maquete pelas alunas do Colégio Mondrone sob orientação da professora Ivoninha Silvina

Anteprojeto desenhado por Tania Mara Rohde

Faria parte do Parque o primeiro Moinho que simboliza o início da industrialização de Medianeira.
Pertencia a Pedro Belotto Filho, depois Família Zornitta, hoje Metalúrgica Jacobsen

Barragem no Rio Alegria construída em 1952 com turbina de 45 HP para fornecimento de energia

 

GRUTA NOSSA SENHORA MEDIANEIRA

Quando foi projetado o Parque Ecológico, Histórico e Recreativo dos Pioneiros, a Gruta Nossa Senhora de Todas as Graças fazia parte do complexo bem na queda do Rio das Lavadeiras, aproveitando as rochas. Este rio faz parte da história de Medianeira e foi nele que as primeiras moradoras lavavam roupa sendo esta a origem do nome. Na época, os tanques da Rua Rio de Janeiro se tornaram famosos pelo número de lavadeiras que na segunda-feira carregavam balaios ou trouxas nas costas  e enquanto lavavam a roupa, colocavam em dia as novidades do final de semana, conta o colonizador Pedro Soccol no livro Resgate da Memória de Medianeira coordenado por Hilegarde Maria Rohde e Elza Biesdorf. O curioso é que as vertentes desse rio surgiam próximo da Rodoviária de hoje, ia descendo e quando chegava à Rua João XXIII, esquina com a Rua Rio de Janeiro formava o rio que era aproveitado pelas lavadeiras, nos informou o morador de Medianeira, há 60 anos, Sérgio Alberto Martinelli. Depois veio a urbanização e o rio foi canalizado até a Rua Alagoas; da Rua Alagoas até a Av. 24 de Outubro continua a céu aberto. Da Av. 24 de Outubro passou pela BR-277 e da outra marginal da  Av. 24 de Outubro canalizado, desembocando na continuidade da Rua Rio de Janeiro em propriedade particular, pertencente  ao empresário Edimar João Antoniello (Careca). Com orientação do IAP canalizou o Rio das Lavadeiras até o encontro com o Rio Alegria, como também preserva toda a margeante. Assim o Rio das Lavadeiras passou a ser um afluente do Rio Alegria, canalizado. A gruta não se tornou realidade, mas a história do rio teve um final feliz. O curioso também é que o Rio das Lavadeiras na área urbana, mesmo canalizado, tem percursos que se houve o som de suas águas, em saudação às lavadeiras do passado.

Queda do Rio das Lavadeiras depois da travessia da BR-277 e Av. 24 de Outubro, antes de ser canalizado até o Rio Alegria

Queda do Rio das Lavadeiras no Rio Alegria depois de canalizado

Um dos percursos do Rio das Lavadeiras ainda não foi canalizado-da Rua Alagoas a Av. 24 de Outubro

 

Era o ano de 1989, que um dos pioneiros de Medianeira, Antônio João Cassânego idealizou um projeto para dar continuidade da Avenida Brasília passando pela Praça Angelo Darolt, sem alterar nada de sua estrutura urbanística. Somente o corte de algumas árvores, conforme registro no Jornal Mensageiro edição 546 de 19/05/1988. Seu Cassânego aqui chegou em 1951 e nunca se conformou como tantos outros medianeirenses, com a interrupção da Avenida Brasília, que travava o desenvolvimento do outro lado da praça. A cidade só crescia de um lado e não havia perspectivas de investimento.

Inconformado com a situação e muito criativo, idealizou uma maquete que refletia as aspirações da coletividade. Com toda sua simplicidade e não ter formação na área tornou realidade a maquete (foto), que teria uma elevada sobre a praça de 10 metros de comprimento por 7,40 de largura. Seriam duas pistas para tráfego de carros e com passarelas laterais para pedestres, além de um túnel que permitiria a integridade da praça e passagem de um lado para outro com segurança.

Para ele, Medianeira seria outra cidade com a ligação da Avenida Brasília. Se tornaria mais atrativa e aumentaria as perspectivas para surgir mais espaços comerciais, além da valorização dos terrenos. Seu entusiasmo era tanto com a possibilidade de concretizar o sonho que registrou a maquete em Cartório sob nº 7.274 em 10 de novembro de 1988, defendo as seguintes considerações.

1º Considerando que a Av. Brasília tem seu maior fluxo de veículos, pessoas e comércio somente da Br-277 até a Praça;

2º Considerando que a Av. Brasília não vai até a Praça e sim em toda sua extensão norte-sul;

3º Considerando que justamente o fato de não existir uma passagem no meio da Praça que permita o tráfego de veículos e de pessoas, contudo sem prejudicar a atual estrutura existente;

4º Considerando que o local de diversão das crianças na Praça no sentido leste, em nada será alterado, ou seja, continuará da mesma forma que está. Da mesma forma, a parte superior da Praça, no sentido Oeste também continuará sem alteração, apenas com a inclusão de novo palco (coreto) com a finalidade de oferecer uma maior visualidade, por ocasiões de promoções, que por ventura forem realizadas.

5º Considerando finalmente que muitos empresários não se estabelecem nesta área, justamente pelo fato da Praça interromper a continuidade do tráfego de veículos e pessoas, não permitindo, com isso o desenvolvimento normal da cidade.

  A luta desse medineirense pela causa comunitária, na época, emocionou muita gente e todos se surpreenderam com os detalhes da maquete. Seu sonho não se tornou realidade, mas serviu de inspiração anos mais tarde, no final da década 90 e nos primeiros anos do século XX , quando a mobilização da sociedade exigiu a travessia da Avenida Brasília. O poder público municipal para atender pedido, realizou em 25 de julho de 1999, por decreto, uma Consulta Plebiscitária indicando dois modelos a ser adotado na reestruturação da Praça Angelo Darolt. Um seria um Calçadão com bancas de revistas, quiosques para cafezinho e guloseimas, biblioteca, casa do artesão, espaço de lazer/ esportivo e parquinho,  sem passagem de veículos. A segunda opção com passagem de veículos, duas pistas que dividia a praça em duas partes, espaço de lazer e esportivo e parquinho. O projeto vencedor foi o segundo com passagem de carros, como se apresenta hoje, com os complementos visualizados. No entanto, muito diferente do projeto do pioneiro Antônio João Cassânego. Só que ninguém poderia imaginar que as árvores seriam todas tombadas, muitas delas nativas, sob o argumento que estariam com vida útil esgotada. É o que se vê hoje. Praça Angelo Darolt, com pouca arborização, muito concreto, sem coreto. E mais um detalhe, sem banheiro público e espaço físico adequado para pequenas exposições, feiras de artesanato ou outras criações de arte em geral. O que se conclui, é que a modernização, nem sempre respeita o passado e não avalia de maneira ampla o uso do espaço público. (Da Redação Mirtis/Pesquisa e Fotos Arquivo Mosaicos)

AVENIDA PASSAR PELA PRAÇA SEM ALTERAR A ESTRUTURA

Antônio João Cassânego com a maquete sonhada e idealizada (Fotos Arquivo Mosaicos)

No Plano Urbanístico de Medianeira, desde sua fundação, fora definido a Praça Central denominada de Praça Angelo Darolt que sinalizou a confluência de duas avenidas Avenida Pedro Soccol e Avenida José Callegari em forma de “X”.

Por apelo da classe empresarial e população para que a Avenida Brasília tivesse continuidade, o Poder Público Municipal realizou Consulta Plebiscitária para opção de um dos dois projetos apresentados. Diante do resultado mãos a obra, primeiro passo o corte de todas as árvores.

Praça Ângelo Darolt depois de urbanizada fragmentou o espaço em duas partes.A parte leste para lazer esportivo e a oeste para contemplação com canteiros emoldurados por colunata da arquitetura pós-moderna com detalhes do estilo romano

OBS. Dos “Projetos Ousados”, dois foram concretizados anos depois, bem diferentes dos  primeiros projetos  sonhados/idealizados. O da Praça Angelo Darolt urbanizada e do Parque Ipê que deu lugar ao Parque 25 de Julho. 
Obs. Se alguém souber de algum Projeto Ousado que não saiu do papel, nos comunique mirtis@revistamosaicos.com.br

3 comentários em: “OUSADOS PROJETOS DE MEDIANEIRA QUE NÃO SAIRAM DO PAPEL

  1. Que coletânea maravilhosa! Gratidão Mirtis por contribuir para que essas memórias não se percam. Gostaria de saber um pouco mais sobre o Espigão do Norte e as informações de que aquela localidade estava sendo “planejada” para ser uma subsede de Medianeira. Pesquisei, tive conversas, mas não cheguei a ver nenhum projeto ou rascunho à esse respeito ainda.

  2. Dagmar agradeço referência aos Ousados Projetos…Um dos focos do site é
    esse resgate de temas adormecidos, mas interessantes. Quanto ao Espigão do Norte, quem está explorando o local
    é o fotógrafo Jorgiro. Acredito que a arquiteta Carla do Planejamento da Prefeitura pode lhe orientar.
    Sabe, me despertou interesse também…
    Att. Mirtis Maria Valério

    1. Realmente Mirtis. Tenho acompanhado o trabalho do Jorgiro na antiga plataforma de Voo Livre, mas as questões históricas estão fragmentadas em diferentes publicações e pouco conhecidas do publico não academico. Algumas tive referencia através do Professor Roberto Marin, mas não temos nada compilado numa unica publicação. Durante muitos anos tive a companhia de um simpatico senhor ( hoje falecido) que contava para mim e para as crianças do Projeto City e Sitio Tur Conhecendo Medianeira, um pouco da história daquele lugar. Dos sonhos de uma grande comunidade rural organizada, aos dias de conflitos dos jagunços, à evasão das familias e até as historias de lamentos dos que não foram sepultados em campo santo…Vou torcer para que um dia possamos resgatar essa história tão interessante de Medianeira.

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