O ex-senador Mario Abdo Benítez, 46, do Partido Colorado (direita), venceu as eleições presidenciais no Paraguai neste domingo (22).
Homônimo de seu pai, braço direito do ditador Alfredo Stroessner (1912-2006), ele tinha 46,5% dos votos com 96% das urnas apuradas, contra 42,7% de Efraín Alegre, 55, do Partido Liberal (centro), que fez aliança com a Frente Guasú (esquerda), do ex-presidente Fernando Lugo.
Por volta das 22h10 (horário de Brasília), o Tribunal Superior da Justiça Eleitoral declarou a disputa presidencial irreversível. Está previsto que o candidato, que acompanhava a apuração na sede do Partido Colorado, em Assunção, se pronuncie ainda neste domingo.
Com a confirmação da vitória, os colorados manterão a hegemonia no país -a sigla só ficou de fora do poder em cinco dos últimos 70 anos.
O candidato vencedor defendeu a continuidade das políticas econômicas de Cartes, junto com uma agenda conservadora alinhada com seu movimento, o Colorado Añetete (verdadeiro, em guarani).
Propôs o serviço militar obrigatório para filhos de mães solteiras como forma de diminuir a insegurança e o consumo de drogas e se colocou contra a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em um país com 96% da população cristã.
Porém, amenizou o discurso sobre corrupção para não atingir Cartes e outros colorados envolvidos em processos. No campo da campanha, priorizou os discursos em vídeos sociais em vez de entrevistas e debates, para as críticas de Alegre, que se expunha mais aos jornalistas.
O liberal também teve propostas mais concretas, como a redução da tarifa de energia e a construção de infraestrutura para usar a parte vendida a Brasil e Argentina das usinas hidrelétricas de Itaipu e Yacyretá; a saúde pública gratuita e o imposto sobre o tabaco.
Ele disse que priorizará a abertura do Mercosul a outros países do mundo. “O Mercosul tem um potencial ainda não desenvolvido à profundidade que eu gostaria. Nós vamos continuar aprofundando os laços com os países do bloco e abrirmos ao mundo.”
Também prestou solidariedade aos venezuelanos pela crise e disse que continuará com o tom crítico da administração de Cartes contra o regime de Nicolás Maduro.
Marito se beneficiou da capacidade de mobilização do Partido Colorado, que lhe rendeu comícios com milhares de pessoas, e o apoio do empresariado, a começar pela família do presidente, maior produtora de tabaco do país.
O novo presidente paraguaio nasceu em 10 de novembro de 1971, na época em que o pai trabalhava para Stroessner. Durante a infância e a adolescência, estudou no Colégio San Andrés, um dos melhores de Assunção. Em 1999, último ano da ditadura, uniu-se às Forças Armadas, tornando-se paraquedista.
Empresário do setor asfáltico, aderiu à política em 2005. Tornou-se vice-presidente do Partido Colorado e, sete anos depois, elegeu-se senador. Foi presidente do Congresso entre 2015 e 2016, ao mesmo tempo em que fomentava seu projeto de buscar a Presidência.
Na campanha, preferiu omitir a defesa aberta da ditadura que marcou sua carreira. Reiterava que defendia um regime democrático e se irritava com menções ao assunto, como a feita por um jornalista antes de votar. “Crítica ridícula”, disse, cortando a pergunta.
Apesar da mudança de posição, ele manteve um ritual. Logo depois de votar, foi com a família visitar o mausoléu do pai, como fez em todas suas campanhas por diferentes cargos.
Economia em alta
Marito Abdo assumirá em 15 de agosto um país com a economia crescendo cerca de 4% por ano, mas sem reduzir a pobreza e a desigualdade, e um tenso ambiente político.
Em quase cinco anos de governo, Horacio Cartes usou o lado negociante para atrair investimentos e compradores para a soja e a carne, principais produtos agropecuários paraguaios.
O resultado foi a manutenção do crescimento econômico apesar da crise financeira na Argentina e no Brasil, dos quais se tornou menos dependente. Com as chegadas de Mauricio Macri e Michel Temer ao poder, pôde retomar as negociações de acordos no âmbito do Mercosul.
O país aumentou as importações e incentivou o consumo ao facilitar o crédito para a compra de veículos, eletrônicos e eletrodomésticos.
O boom econômico, porém, evidenciou os problemas da infraestrutura. As construções de vias rurais e urbanas e linhas de transmissão e energia não foram suficientes para evitar os engarrafamentos nas estradas, em sua maioria de pista simples, e os apagões.
Outra dívida que Cartes deixa é em relação a sua maior promessa em 2013, a redução da pobreza.
Apesar da facilidade de crédito e da redução do déficit habitacional, a parcela de pessoas abaixo da linha de pobreza caiu 1,6 ponto percentual de 2013 a 2017, passando de 28% para 26,4% da população.
Ele mesmo reconheceu o descumprimento da promessa ao votar neste domingo em Assunção. “Não pudemos reduzir a pobreza, apesar da riqueza que temos no país. Sempre há dívidas sociais.”
Cartes renunciará ao cargo em 1º de julho para assumir uma vaga no Senado.