História de Santos Dumont com as Cataratas vence concurso na cidade Natal do inventor do avião

“Santos Dumont e suas obras” foi o tema do concurso; o relato sobre a interferência dele para que a área das Cataratas se tornasse pública ficou em primeiro lugar

O texto que conta a história de Alberto Santos Dumont com as Cataratas do Iguaçu venceu o concurso cultural “Santos Dumont e suas obras”, promovido pela prefeitura da cidade de Santos Dumont, em Minas Gerais, onde o inventor nasceu. A redação começa esclarecendo que ele não sobrevoou as Cataratas, como muitos acreditam. Depois transporta os leitores para uma sequência de fatos históricos envolvendo o aviador, em 1916, que culminaram com o decreto que tornou pública a área onde estão as quedas. O certificado e alguns presentes foram entregues no dia 17 de agosto, na praça central da cidade mineira, por representantes da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Santos Dumont à jornalista iguaçuense Izabelle Ferrari – responsável pela inscrição da redação.

O relato foi baseado em informações deixadas por uma pioneira de Foz do Iguaçu, dona Elfrida Engel. Foi o pai dela, Frederico Engel, que recebeu Alberto Santos Dumont, no início do século passado, e ajudou a mudar o destino da maior sequência de cachoeiras do nosso planeta. Após visitar os saltos, “Santos Dumont esteve com o presidente do Paraná, Affonso Camargo”, conforme enaltece o texto, “e, três meses depois, saiu o decreto de desapropriação das terras das Cataratas do Iguaçu, declarando a área ‘de utilidade pública, para fim de nele se estabelecerem uma povoação e um parque’.”

Muitos dos moradores da cidade onde nasceu o aviador mineiro não sabiam que a passagem dele por Foz do Iguaçu não tinha sido apenas a passeio. Para que essa história seja propagada entre os conterrâneos do aviador, a jornalista Izabelle Ferrari levou reproduções do relato original feito por Elfrida Engel; exemplar do livro “Frederico Engel – pioneiro do turismo e hotelaria em Foz do Iguaçu”, escrito pelo bisneto dele, Renato Rios Pruner; e um compilado de reportagens publicadas na época em que Santos Dumont esteve no Paraná. Os documentos foram entregues à Mônica Castello Branco, uma das responsáveis pelo Museu Cabangu, casa onde nasceu Alberto Santos Dumont. 

Santos Dumont X Cataratas do Iguaçu?

O título da redação é “Por que tem uma estátua de Santos Dumont nas Cataratas do Iguaçu”. As linhas que seguem explicam: “Quando Santos Dumont desembarcou na região de fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, ele já era uma celebridade mundial. Dez anos antes tinha provado ao mundo que era possível tirar um aeroplano do chão com a força do próprio motor.” Ao saber que o pai da aviação estava na cidade vizinha, uma emoção patriótica tomou conta do pioneiro da hotelaria iguaçuense, Frederico Engel que conseguiu trazer o ilustre visitante para Foz do Iguaçu.

Santos Dumont foi hospedado no Hotel Brasil, da família Engel. O registro consta no livro de hóspedes, relíquia de família preservada até hoje onde está a notável assinatura de Santos Dumont. Acompanhado por Frederico Engel e pelo filho dele Frederico Engel Filho, Santos Dumont foi visitar a paisagem brasileira das quedas, percorrendo 18 km de mata virgem a cavalo. A redação vencedora do prêmio conta detalhes dessa hospedagem, incluindo um ato preocupante de Santos Dumont: “Ele se atreveu a caminhar até a ponta de uma tora úmida que tinha ficado enroscada no topo de um dos saltos, deixando extremamente apreensivos os anfitriões que ali estavam. (…) Ao retornar, Frederico Engel expressou o desespero causado, mas o aeronauta bateu-lhe amigavelmente no ombro e, procurando acalmá-lo, disse: ‘As alturas não me perturbam, não se preocupe’. Era de se esperar.”

Santos Dumont soube, por Frederico Engel, que as Cataratas eram propriedade particular, tinham sido concedidas pelo governo brasileiro da então Colônia Militar ao estrangeiro Jesus Val (os registros apontam para duas nacionalidades: espanhol e/ou uruguaio). Santos Dumont não demorou a dizer a Frederico Engel: “esta maravilha não pode continuar a pertencer a um particular”. Comentou que iria, pessoalmente, até a capital do estado, Curitiba, para ter com o presidente do Paraná na época, Affonso Camargo, para tratar da desapropriação das Cataratas e assim fez.

Por isso o patrono da aviação é também considerado patrono das Cataratas do Iguaçu. Por isso, em 1979, foi levada ao Parque Nacional do Iguaçu (onde estão as quedas), uma estátua de bronze de Santos Dumont, em tamanho real – graças à mobilização de dona Elfrida Engel.

Espaço de memória

Há cinco anos um grupo de voluntários, de que a jornalista Izabelle Ferrari faz parte, luta para que seja construído um espaço de memória resguardando essa história dentro do Parque Nacional do Iguaçu, perto das Cataratas. Em busca disso, foi montada uma exposição com documentos, objetos e móveis que têm relação com a passagem de Santos Dumont por Foz do Iguaçu. Essa exposição ficou quase dois anos no Ecomuseu de Itaipu. Atualmente, está no Clube Gresfi e pode ser visitada por qualquer pessoa que deseje, de forma gratuita. Basta agendar a visitação pelo número 45 9118-6715 (WhatsApp). O objetivo é que esse acervo fique no espaço que contará essa história aos milhares de visitantes que passeiam pelas quedas todos os dias.

SERVIÇO

Exposição Asas da Memória – Santos Dumont na Terra das Cataratas
Local: Clube Gresfi
Data: sob agendamento
Contato: 45 9118-6715

Santos Dumont com o aviador argentino Eduardo Bradley, em 1916, em Buenos Aires, antes de tomar o rumo de Foz do Iguaçu

Carolina Becker e Frederico Engel, pioneiros do turismo de Foz do Iguaçu. (Acervo família Engel)

Hotel Brasil em que Santos Dumont ficou hospedado na cidade de Foz do Iguaçu. (Acervo família Engel)

Livro de hóspedes do Hotel Brasil com a assinatura de Santos Dumont. (Acervo família Engel)

Hotel Brasil dos Saltos, instalado em frente às Cataratas do Iguaçu, onde Santos Dumont ficou hospedado em 1916. As instalações já não existem mais. (Acervo família Engel)

Fotos internas do Hotel Brasil na cidade, onde Santos Dumont foi homenageado com uma churrascada e, dias depois, com um baile. (Acervo família Engel)

Santos Dumont com o presidente do Paraná, Affonso Camargo, em Curitiba, em 1916.

Estátua de bronze de Santos Dumont que fica nas Cataratas do Iguaçu. Foto: Nilton Rolin

Talheres que pertenceram ao Hotel Brasil onde Santos Dumont ficou hospedado. (Foto: Izabelle Ferrari)

Mobiliário que pertenceu ao Hotel Brasil onde Santos Dumont ficou hospedado. (Foto: Izabelle Ferrari)

O relato desta história deu a dona Elfrida Engel o terceiro lugar em concurso sobre o centenário de nascimento de Santos Dumont. (Acervo família Engel)

Elfrida Engel junto à estátua de Santos Dumont, instalada nas Cataratas do Iguaçu em 1979. (Acervo família Engel)

(da esq. p/ dir.) As voluntárias Sílvia Scandalo e Kathlen Marianne Ferrari; os bisnetos de Frederico Engel, Irma Jacy Pruner Salfer, Isabel Cristina Pruner e Renato Rios Pruner; os voluntários Sérgio Teixeira e Izabelle Ferrari.

Jornalista Izabelle Ferrari recebe certificado e presentes pelo primeiro lugar no concurso Santos Dumont e suas obras na praça central da cidade de Santos Dumont, em Minas Gerais. (Foto Portal 14B)

TEXTO POR IZABELLE FERRARI – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO. FOTOS POR ACERVO FAMÍLIA ENGEL/REPRODUÇÃO

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