Material é destinado a atender estudantes surdos e leitores-ouvintes do Ensino Fundamental I
Há três anos, em 26 de setembro de 2016 (Dia Nacional do Surdo), muitos alunos da Escola Bilíngue para Surdos Lucas Silveira foram pela primeira vez ao cinema, devido à dificuldade para acompanhar legendas. Mas, naquela noite, a comunidade escolar da instituição, mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Foz do Iguaçu (APASFI), foi prestigiar o lançamento de um curta-metragem educativo ambiental em que alguns deles atuaram: o Carta da Terra para Crianças: Um Novo Olhar – O Filme.
Com a presença de mais de 300 convidados, o evento ocorreu no Cineplex, do Cine Cataratas. Esta obra cinematográfica, disponível no link https://youtu.be/75JrdzuGId4, representou a realização de um sonho para a equipe de Educação Ambiental do Município, a partir do Coletivo Educador Municipal de Foz do Iguaçu (CEMFI), em parceria com a Itaipu Binacional e o Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu.
O material, que sensibiliza para as questões socioambientais, foi concebido com a proposta de acessibilizar a mensagem da cartilha Carta da Terra para Crianças (2012) – também uma iniciativa do grupo. Tendo como cenário principal o pátio do Belmond Hotel das Cataratas, no Parque Nacional do Iguaçu (PNI), a história se passa numa aula ao ar livre. Entre uma explicação e outra do professor, os nove alunos do elenco principal vivenciam, de forma prática, os princípios da cartilha em locais como o Gramadão da Vila A, o Parque Monjolo, o Parque das Aves, a Rodoviária Internacional de Foz do Iguaçu, o Marco das Três Fronteiras, a Itaipu Binacional e a Ponte Tancredo Neves.
Gravado em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), o vídeo contém sonorização e legenda em Língua Portuguesa, a fim de contemplar estudantes leitores-ouvintes das escolas da rede pública municipal de ensino de Foz do Iguaçu e dos demais 28 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (BP3). Junto à distribuição do material, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), por meio do Centro de Educação do Iguaçu (CEAI), ofertou capacitações para que os professores pudessem aplicar a ferramenta em sala de aula.
Além disso, como relata a educadora Rosani Borba, do CEAI, “o filme foi motivo de estudo em Educomunicação Socioambiental, o que demonstra ainda mais o valor da conexão entre a prática e a teoria acadêmica. É uma grande satisfação para o Coletivo Educador e para o nosso município colher frutos desse trabalho, e contar que ele continua dando o que falar,” expressa.
Inúmeros aprendizados, ainda de acordo com Rosani, foram proporcionados pelo filme, em especial, em relação à importância de aprender com as pessoas. “Foi um desafio multifacetado, pois também envolveu a transposição conceitual do conteúdo da Carta da Terra para as necessidades e possibilidades dos alunos/atores, e dos professores envolvidos,” relembra.
Para Solange Guilhardi, que naquela época foi coordenadora pedagógica da Escola Lucas Silveira, a produção do filme contribui para mostrar que “os surdos são capazes de ter acesso a vários assuntos, desde que se faça em LIBRAS, e eles puderam aprender na prática porque eles não podem ficar só na teoria, precisam ver como funciona de fato”. Um ponto-chave do curta-metragem, como explica o professor Giliar de Cesaro, que também integrou o elenco, é esclarecer que a única diferença entre surdos e ouvintes é a língua, ao retratar o dia a dia da comunidade surda.
“Esta produção mostra como o surdo tem valor e potencial, que a língua de sinais não é fator de exclusão, mas de integração, tendo em vista que a comunicação é essencial para estabelecer relações sociais, no namoro, amizade, trabalho, entre outros,” exemplifica de Cesaro. Sendo assim, o material educativo em favor do meio ambiente e dos direitos humanos revela a verdadeira face da realidade surda, o que muitos ainda desconhecem por falta de informação. (Reportagem: Derliz Moreno Fotografia: Divulgação)