China e Argentina articulam megaprojeto capaz de duplicar a produção de suínos no país de Alberto Fernández
Sem muito alarde, desde o início do ano passado circulam conversações no eixo Buenos Aires-Beijing em torno de um megaprojeto pecuário que a médio prazo pode se revelar um concorrente incômodo para o Brasil.
O governo do peronista Alberto Fernández, o regime do camarada Xi Jinping e setores empresariais dos dois lados do planeta articulam a implantação de 25 enormes complexos de criação e abate suínos capazes de duplicar a produção de carne de porco argentina, das atuais 790.386 toneladas (2020) para algo em torno de 1,7 milhão de toneladas/ano.
O interesse dos chineses é óbvio: ter na Argentina uma despensa estratégica para sua segurança alimentar, que reduziria a dependência de outros países e ao mesmo tempo serviria de tapume preventivo contra desastres como a Peste Suína Africana, que recentemente obrigou a China a sacrificar 40% do seu rebanho.
A um custo estimado em 3,5 bilhões de dólares, o plano contempla a instalação de unidades suinícolas em pelo menos cinco ou seis províncias – já são citadas Córdoba, Buenos Aires, Chaco e Santa Fe – com volume total de produção de 900.000 toneladas/ano. Essa produção seria integralmente absorvida pela potência asiática. Defensores argentinos do projeto elencam como pontos positivos a geração de divisas, a criação de postos de trabalho e o aproveitamento de parte da safra nacional de grãos (milho e soja) para alimentar os animais.
Para a China a vantagem estaria – além da retaguarda alimentar – em uma produção mais econômica. Especialistas estimam que na Argentina seria possível obter carne a 90 centavos de dólar por quilo, enquanto no Império Vermelho o custo/ quilo se situaria na faixa de 1,70 dólar.
Com prazo de execução de seis anos, o megaprojeto chinês e seus dólares “vermelhos” são bem-vindos em setores do oficialismo peronista e do empresariado, em um país cuja economia vive altos e baixos há décadas. Mas também há resistências. Entidades como o Greenpeace (tido como “comunista” no circuito da direita latino-americana), Jóvenes por el Clima e a Asociación de Abogados Ambientalistas já saíram a campo para apontar os efeitos devastadores que o projeto, por sua magnitude, teria sobre o meio ambiente.
No Chaco, o governador Jorge Capitanich não se deixou intimidar. Passando ao largo da grita ambientalista e antecipando-se ao governo federal, firmou um acordo de cooperação com a empresa sino-argentina Feng Tian Food para a implantação de três complexos suinícolas na província. A produção será destinada totalmente ao mercado chinês. (Heinz Schmidt)