Levantamento aponta os locais em que funcionou o Governo do Estado, desde o tempo em que não eram palácios
Quando Zacarias de Góes e Vasconcellos desembarcou em Curitiba para instalar o governo da nova província, Curitiba era uma cidade de população rarefeita, sem atrativos, com ruas cobertas de lama e um clima inóspito.
Escolhida capital da recém-criada Província do Paraná, pela Lei nº 704 de 29 de agosto de 1853, a cidade tinha 27 quarteirões, com um total de 5.819 habitantes, dos quais 4.120 eram brancos, 43 estrangeiros, 955 mulatos e pardos e 762 negros, destes 473 escravos. Contava 308 casas e 52 em construção, 38 lojas de fazendas e armarinhos, 35 armazéns de comestíveis, três de ourivesaria, cinco ferrarias, duas mercearias, 10 olarias, uma selaria, seis alfaiatarias, nove sapatarias, três açougues e uma padaria, conforme dados arrolados por Romário Martins.
O baiano Zacarias vinha de paragens cosmopolitas, como o Rio de Janeiro e Paris, onde passou sua lua de mel. Nascido em Valença, tinha 38 anos e era recém-casado com a jovem Carolina de Vieira. Formado em Direito pela Academia de Olinda, Zacarias trazia consigo também a experiência de ter sido Deputado Geral, na corte imperial, o que lhe deu as qualificações para ser nomeado presidente das províncias do Piauí e de Sergipe.
Sua nomeação para instalar e presidir a província do Paraná se deu por ato do ministro Luiz Pedreira Couto, do gabinete do Império, recebendo instruções detalhadas. Como prioridade, o ministro determinou que alugasse um palácio para o governo onde, se possível, funcionasse também a Secretaria de Governo, “enquanto não houver algum próprio nacional, com os cômodos necessários e bem assim para fazer as despesas que forem necessárias com asseio, pintura, ornato e mobília do mesmo edifício, para o que se expedirão as convenientes ordens”.
Zacarias instalou o governo em um sobrado na esquina das atuais Rua das Flores e Barão do Rio Branco. Ali funcionou o governo durante algum tempo, provavelmente durante todo o seu mandato, terminado em 3 de maio de 1855, por razões ainda hoje nebulosas. Ele retornou ao Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de deputado pelo Paraná e chegou a presidir o Conselho de Ministros do Império, quando já era Senador pela Bahia.
A sede do governo depois passou para outro sobrado, na esquina da Rua das Flores, proximidades da atual Rua Monsenhor Celso. O pastor Willhem Fugmann, em seu livro Os Alemães no Paraná, afirma que o governo também funcionou, no período imperial, em uma residência de propriedade do mestre-ferreiro Michel Miller. Não há dados consistentes sobre a localização da casa – provavelmente na região que hoje compõe o Setor Histórico – apenas sua fotografia, que consta do acervo do Museu Paranaense. Fato é que D. Pedro II, ao visitar o Paraná em 1880, fez questão de visitar o artífice alemão em sua residência.
Entre 1886 e 1892 o Palacete Wolff, na Praça Garibaldi, que hoje sedia o Instituto Municipal de Turismo, foi alugado para o Exército. O casarão pertencia ao industrial José Wollf, dono de cervejaria, de família austríaca. Ali funcionou provisoriamente o governo do estado, durante a presidência de Joaquim Monteiro de Carvalho, imóvel que também foi sua moradia.
Em 1890, a Fazenda Nacional adquiriu o palacete de Leopoldo Ignácio Weiss, na atual Barão do Rio Branco, transformando-o em Palácio da Liberdade. O governo do estado ficará sediado no local entre 1892 e 1938.
Situado na rua de entrada da cidade, em que, por longo tempo, concentrou-se o poder, estava estrategicamente próximo a quem chegava a Curitiba pela Estação Ferroviária. De sua sacada acenaram para a população curitibana diversos governadores paranaenses e presidentes da República em visita.
O Palácio da Liberdade foi projetado e construído pelo engenheiro de origem italiana Ernesto Guaita para o seu colega de profissão Leopoldo Ignácio Weiss. A construção teve início no fim da década de 1870, concluída no fim da década de 1880.
Em 1929, o governo anunciou a compra de “uma vasta área de terras na Praça Santos Andrade, em frente à Universidade do Paraná” para a construção de um novo Palácio do Governo, considerando que “o actual edificio está em más condições”. No entanto, a nova construção não vingou.
Quase dez anos mais tarde, o interventor Manoel Ribas convenceu seu amigo, o empresário e pecuarista Júlio Garmatter a vender a residência da família no Alto São Francisco, pelo valor de 400 contos de réis.
O Palacete possuía sofisticação formal, apuro construtivo e localização privilegiada. Projetado e construído, em 1928, pelo engenheiro Eduardo Fernando Chaves, em estilo art déco, teve como modelo, a pedido de Garmatter, a Casa Rasch do arquiteto berlinense Hermann Muthesius, em Wiesbaden, Alemanha, datada de 1913.
O governo do estado manteve-se no local por 16 anos, até o governo de Bento Munhoz da Rocha Netto. Hoje o antigo palácio é sede do Museu Paranaense.
Com a proximidade das comemorações do centenário da emancipação política do Paraná, em 1953, o governador Bento Munhoz fez projetar o Centro Cívico, que teria o novo palácio do governo como protagonista. Com arquitetura modernista, é obra do engenheiro e arquiteto paranaense David Xavier de Azambuja. Sua inauguração se deu, porém, um ano depois de encerradas as festividades do centenário. Em 19 de dezembro de 1954, Bento recebeu o presidente da República, João Café Filho, para que fossem descerradas a fita e a placa comemorativa.
Desde então o Palácio é uma das maiores atrações turísticas da capital, recebendo visitantes de todos os quadrantes. Possui uma rica coleção de artes plásticas de autoria de pintores paranaenses.
Em 14 de maio de 2007 o governador Roberto Requião transferiu a sede do governo para o outro lado da Praça Nossa Senhora de Salete, no mesmo Centro Cívico. O Palácio das Araucárias, que ele havia mandado concluir, recebeu o primeiro escalão estadual a partir daquela data, enquanto o Palácio Iguaçu entrava em reforma, a primeira de grande porte desde sua inauguração.
O Palácio das Araucárias foi projetado para ser sede do poder judiciário. Sua construção foi iniciada no governo Alvaro Dias (1987-1990), mas foi embargada algum tempo depois por problemas na execução da obra. A partir de então, o esqueleto do Centro Cívico, como foi apelidado pelos curitibanos, foi abrigo da população sem teto e mocó de usuários de drogas. A situação se alongou por 15 anos, até o governo estadual negociar a propriedade com o Tribunal de Justiça. Alguns andares superiores do esqueleto foram eliminados na retomada da obra e o Palácio enfim ganhou forma.
Até dezembro de 2010, quando o governador Orlando Pessutti reinaugurou o Iguaçu, o Palácio das Araucárias foi a sede oficial do governo. Hoje funciona ali a Secretaria Estadual de Administração. (Boltim Fecomercio)