Sabe-se que o Parque Nacional do Iguaçu sempre despertou curiosidade a desbravadores e estudiosos da História Natural. Inúmeras expedições foram realizadas a começar pelo espanhol Álvar Nuñes Cabeza de Vaca em 1542, depois Santos Dumont que ao conhecer o PNI em 1916 lutou para proteger e oficializar a área junto a órgãos competentes que acabou acontecendo com sua a criação conforme Decreto- Lei nº 1.034 do presidente Getúlio Vargas em 10 de janeiro de 1939; como também outras tantas pesquisa/expedições/ viagens com objetivo científico e de fiscalização. Dentre os pesquisadores focamos o naturalista polonês Tadeusz Chrostowski por ter sido o primeiro ornitólogo a residir no Paraná e ter realizado três expedições no estado, a primeira (1910-1911), a segunda (1913-1915) e a terceira (19122-1924) incluindo o PNI e por termos a informação de que estaria ali enterrado na divisa com o município de Matelândia às margens na Estrada Velha de Guarapuava que ligava Foz do Iguaçu a demais municípios e a capital paranaense. Fatos estes que sempre despertou nossa curiosidade como profissional de imprensa com viés no resgate histórico regional.
Decidimos então procurar pistas para localizar o jazigo (não foi fácil) até que tabulamos com funcionários do Posto de Informação e Controle do PNI de Céu Azul, por sugestão de Luiz Alberto Colioni (Beto) secretário da Agricultura da Prefeitura deste município. Chegou o dia agendado, tarde de 29 de setembro de 2018 e fomos acompanhados pelos funcionários Adilson Américo Machado, Paulo Maravilha e Anísio Muniz, coincidindo com suas atividades operacionais naquela direção. Partimos da BR-277 em Matelândia, eles indicando o caminho e nós os seguindo. Percorremos cerca de 30 quilômetros passando pelas comunidades Santa Lúcia, Bananal, Distrito de Marquesita, Cantinho do Céu até nos depararmos com a Estrada Benjamin Constant batizada de Estrada Velha de Guarapuava e chegar ao local previsto às margens do Parque Nacional do Iguaçu- distante a uns 15 km Oeste da Estrada do Colono, próximo ao conhecido “Cemitério do Romão”. Nesse percurso é interessante registrar que a maioria são proprietários de grandes áreas que arrendam para terceiros para lavouras ou fazendas de gado-isso se confirma pelo levantamento do IBGE de que dos 838 proprietários da área rural do município 137 são arrendatários, 37 parceiros e 33 por comodato e que 45% do total da área do município 639,746 km²pertence ao Parque Nacional do Iguaçu. Depois de nos situarmos um tanto emocionados por realizarmos o intento, os abnegados acompanhantes sabedores do local do túmulo, logo tiraram uns galhos da vegetação abrindo uma trilha até uns 10 metros da estrada vicinal conhecida como Estrada Velha de Guarapuava e lá nos deparamos com o túmulo de pedra de Tadeusz Chrostowski completamente abandonado sem nenhuma identificação e aparecendo um buraco de onde foram removidas pedras e terra, transparecendo indícios de ação de larápios a procura de algo precioso. Sinceramente, nos decepcionamos do descaso com esta personalidade científica. A história registra que havia um túmulo com inscrição em bronze numa lápide com os seguintes dizeres que também Jornal Mensageiro registrou na edição nº40 de 20 de fevereiro de 1975:
“Ao destemido explorador da Fauna Brasileira Dr. Tadeusz Chrostowski;
Polonês, falecido na sentinela da Ciência, em 04 de abril de 1923
União Central dos Poloneses no Brasil
Honra ao Trabalho Perseverante”
No entanto hoje essa lápide também não existe mais. E assim a história se perde. O que fica é o legado de sua pesquisa como bem afirmou José Flavio Cândido professor da Unioeste de Cascavel-PR em 2005 ao se deparar com o jazigo: “E mais uma vez a história se perde por ganância e desinformação. Mas não importa porque estive lá e sei de que o legado de Tadeusz não será esquecido. E espero que seu espírito ronde livre naquela mata, conhecendo e maravilhando com toda aquela beleza e proteja a vida que lá abriga”.
Quem sabe a União Central dos Poloneses no Brasil junto com alguma universidade, que tenha identidade científica de pesquisa, possa se interessar em revitalizar o túmulo para dar identidade a esse primeiro cientista a estudar a fauna paranaense e ser considerado uma das celebridades que mais contribuíram pelo avanço das ciências naturais do Brasil e que faleceu de malária a serviço da humanidade. (Da Redação Mirtis/Texto/Fotos e Pesquisa)
OPORTUNO ACRESCENTAR…
Durante nossa pesquisa, encontramos importantes dados sobre o naturalista Tadeusz Chrostowski no livro Ruínas e Urubus de autoria de Fernando Costa Straube por ter dado ênfase ao personagem polaco em suas expedições que realizou no estado do Paraná documentando a avifauna daquela época e a natureza em um sentido mais amplo. Afirma o autor que a trajetória de Chrostwski embora rica e valiosa para a ciência (coleções zoológicas e publicações) bem como sua exploração pelo Paraná ficou esquecida durante décadas. No Paraná pouco interesse foi despertado por uma tão antiga condição de pesquisa da região. Como também na Polônia que mantém o Museu e Instituto de Zoologia da Academia Polonesa de Ciência, onde está armazenado a parte principal (milhares de espécimes, incluindo 890 aves) da coleção de Chrostowski, nunca surgiu interesse particular. O legado do explorador, assim acabou mantido como integrante de dois “pedaços de ciência” completamente distintos e separados um do outro pela distância intercontinental entre Brasil e Polônia e pela falta de contatos mútuos em relação ao tema, entre os dois países. Essa condição fez com que no Paraná, pouco se conhecesse das coleções e documentações do cientista em Varsóvia e além disso curadores poloneses do acervo, não tinham consciência de que o distante Brasil mantivesse quaisquer interesses nesses materiais.
Fernando foi reconhecido por produzir numerosas publicações no Brasil e também realizou uma rede de contatos com os zoólogos poloneses. Fernando que é descendente de terceira geração do entomólogo alemão Franz Gustav Straude e por ter trabalhado 13 Anos como ornitólogo no Museu de história Natural em Curitiba, dedicando-se a questões faunísticas, taxonomia e biogeografia é autor de 18 livros e tem publicado 138 artigos em periódicos, mas seu principal esforço criativo concentra-se em uma série de estudos, intitulado “Ruinas e Urubus” metáfora para o tema principal dessa coleção “história e natureza”. A pesquisa de Tadeusz está documentada no sexto volume da série.
Chrostowski considerava a morte como um atributo natural do viajante que se arriscava em prol da ciência. Ele sempre enaltecia seus companheiros de viagem pelo desempenho que tiveram para o sucesso. Dividia os louros da expedição com todos os participantes em especial com seu amigo Tedeusz Jaczewski. O seu falecimento foi notícia até em periódicos importantes dos meios científicos- foi até editorial da famosa revista Sciense em 13 de julho de 1923. Depois da morte de Chrostowski a empolgação para a pesquisa deixou de existir e Jaczwski em 13 de outubro de 1923 acabou embarcando para a Europa. Chegou em Varsóvia em 18 de março de 1924 dando por cumprida a importante expedição. Uma de suas primeiras tarefas foi produzir um obituário do amigo Chrostowski publicado em quatro versões.
# O internauta que tiver interesse pode conferir no Google Tadeusz Chrostowski, pai da ornitologia do Paraná por Fernando Costa Straude
IDENTIDADE POLONESA EM MEDIANEIRA
Por não encontrarmos nenhuma referência a Medianeira (PR) sobre o Monumento Braspol e designação de Rua que prestou homenagem ao Papa João Paulo II pela União Central Polonesa, evidenciamos como complementação de pesquisa:
Boa tarde,
Em contato com o Pe. Zdzislaw Malczewski, reitor da Missão Católica Polonesa no Brasil, precisamos de contato com os pesquisadores.
Eu faço parte e conheço a diretoria da BRASPOL Nacional de Curitiba, bem como tenho contato direto com o Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba.
Por acaso o Padre Malczewski comentou comigo no domingo (07 de julho) sobre a sepultura se eu tinha conhecimento, daí eu comentei sobre essa matéria.
Com certeza é de interesse da Comunidade Brasileiro-Polonesa e também do Consulado da Polônia em Curitiba em resgatar e preservar a História do Chrostowski.
Bom dia Geraldo, gostei do seu interesse, sou historiador da cidade vizinha a Matelândia, Céu Azul, e já realizei algumas pesquisas de campo nas imediações buscando encontrar também o local onde está sepultado este nobre pesquisador, inclusive achei o livro do Fernando Straub e com base nisso estou desenvolvendo pesquisas relacionadas a estrada velha de Guarapuava e a memória desse pesquisador. Qualquer iniciativa de resgate histórico e preservação da memória e do trabalho dele, podem contar com minha ajuda e reitero o meu interesse na preservação e restauração do monumento em honra a esse pesquisador que atualmente encontra-se em Estado lastimável. Mas acredito que boa vontade e recursos bem empregados poderemos se não restaurar erigir um novo monumento.
Sou descendente de um dos auxiliares de Chrowstowski da terceira expedição polonesa, o Borecki, e acho muito triste a situação do tumulo do nobre patrono da ornitologia no Paraná.
Boa tarde , sou neto do Estanislau Borecki, taxidermista,ornitólogo ,este que veio da Polônia junto com o Tadeusz Chrostowski nessas expedições, e lamentável saber que a história está indo para as ruínas…
Hoje 15.04.2023, pela passagem dos 100 anos de nascimento de Tadeusz fiz algumas pesquisas a seu respeito e encontrei essa matéria. Parabenizo quem a fez e a deixou aqui registrado.
Precisamos dar mais valor a situações como esta, é bom que se fomente a necessidade da restauração do local e a manutenção dele. Espelhando se em exemplos como o de Tadeusz, nós poderemos ser mais conscientes da nossa responsabilidade. É um assunto de interesse de muitas pessoas. A comunidade polônica deve sim se interessar pela memória de um de seu ilustres descendentes, mas órgãos públicos são sem dúvida os mais interessados e responsáveis pela preservação da pesquisa e registro da história.
Existe esse estudo arqueológico de 1999 com fotos do que restou da lapide original (página 61 do PDF).
Olá! na data de amanhã, dia 21 de novembro de 2023 será inaugurado o Memorial Tadeusz Chrostowski – Patrono da Ornitologia Paranaense juntamente com o Circuito do Polonês.
A iniciativa de restauração foi proposta e coordenada pelo curador do projeto, o professor historiador Maurício Dezordi e foi apoiado por outras entidades.
O Parque Nacional do Iguaçu e ICMBIO, expediram as autorizações, além de acompanhar o projeto, definir o traçado e realizaram o plantio de mudas nativas. Foi financiado pelo Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba e pelo Parque das Aves e recebeu apoio da Prefeitura de Matelândia através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo e Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, bem como da Adetur Cataratas e Caminhos.