Ignácio Aloysio Donel gaúcho de Cerro Largo (RS) chegou ao Paraná em 1965 com a missão de legalizar em Missal a Cooperativa Comasil (hoje Lar) que já operava informalmente. Esse ex-professor com conhecimento, disciplina, diplomacia e visão foi conquistando confiança e se tornou uma expressão cooperativista. Homem simples, encerrou sua missão pública na década de 90 e voltou para a terra, suas raízes, no interior de Céu Azul (PR). Nunca se considerou personalidade, apesar de ter sido condecorado inúmeras vezes em sua trajetória de vida. Recentemente no Dia da Indústria lhe foi entregue a Comenda Nelson Simonatto pela Associação Empresarial de Medianeira – Acime reconhecendo sua articulação no setor industrial no município sob a égide do cooperativismo. Antecedeu a condecoração a palestra sobre “Biopark-Parque Tecnológico de Biociências” de Toledo.
Do que lemos sobre Ignácio Aloysio Donel nada se compara a um texto de preleção de sua história inserido no livro “OS 40 ANOS DA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL LAR” de 2005 editado por Roberto Marin- esse profissional da imprensa, professor, historiador e contador de “causos”:
“Durante mais de 30 anos, Ignácio Aloysio Donel foi figura de destaque no sistema cooperativista regional e estadual. Em funções de comando, nos Comitês Educativos, cooperativismo de crédito, na defesa dos associados atingidos pelo Lago de Itaipu, nas lutas políticas por preço justo aos produtos agrícolas, na mobilização pela abertura da Estrada do Colono e em inúmeras atividades comunitárias; Donel marcou época com seu carisma, determinação, inteligência, visão de negócios e ideias futuristas. Foi líder que começou praticamente do nada, trabalhando na roça, abrindo picadas. Durante 10 anos foi professor primário comunitário na Escola São José, em Pinheiro Machado, comunidade que na época pertencia ao município de Cerro Largo (RS).
Donel foi líder respeitado e paparicado, mas também questionado e até caluniado. Nos 26 anos em que esteve no comando da antiga Comasil, depois Cotrefal e agora Lar, seu nome ecoou pelos campos, pelos montes, nas pequenas e médias propriedades, nos gabinetes de prefeitos e parlamentares, nas vilas e cidades, e passou a ser um símbolo do cooperativismo nativo, de berço, de raiz.
O ex-professor primário teve a missão de legalizar a cooperativa, a partir de 1965, e nessa época também lutou e conseguiu regularizar pendências fundiárias da antiga Gleba dos Bispos. Para tanto, usou inclusive recursos particulares. Viajou para Curitiba e depois ao Rio de Janeiro. Na “cidade maravilhosa”, acampou durante uma semana defronte do escritório do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, o antigo IBRA, até conseguir uma solução para as terras que estavam “enleadas”, como acontecia, frequentemente, em colonizações no Paraná. Donel foi também o primeiro vereador eleito para representar a vila de Missal na Câmara de Medianeira.
Já na presidência da então Comasil, Donel acatou sugestão do Projeto Iguaçu de Cooperativismo e coordenou com habilidade política e sem grandes traumas a transferência da sede administrativa de Missal para Medianeira, a partir de 1971. Dois anos depois teve início da construção de grandes armazéns graneleiros em Medianeira, Santa Helena e São Miguel do Iguaçu, sendo o símbolo maior o graneleiro de 500.000 sacas em Medianeira, inaugurado no dia 26 de julho de 1975, com as presenças do governador Jaime Canet Júnior, do bispo diocesano Dom Armando Círio e do deputado Federal Arnaldo Busato, entre outras dezenas de autoridades.
Donel criou o “Informativo Cotrefal” para o rádio, e depois lançou o jornal do mesmo nome. Liderou as campanhas para aquisição das massas falidas da Oleolar e da Frimesa. A primeira fora adquirida pela Cotrefal e representa o marco inicial do processo de agroindustrialização da Cooperativa. A Frimesa transformou-se em Cooperativa Central, levando o nome inicial de Sudcoop, sendo a sede administrativa transferida de Francisco Beltrão para Medianeira.
Ao longo da década de 1970, a contratação de novos funcionários era coordenada pessoalmente por Donel. Não só isso. Sua residência transformou-se em pensão e uma dezena de colaboradores nela se hospedavam.
A partir de 1983, a Cotrefal passa atuar firme na área de supermercados, inaugurando 13 lojas em várias cidades da região. Também investiu na construção da Escola Vocacional Agropecuária (EVA), estabelecimento destinado à difusão de conhecimentos e tecnologias no setor agropecuário. Em 1991, em memorável Assembleia, Ignácio Aloysio Donel entregou o cargo de diretor Presidente da Cotrefal para Irineo da Costa Rodrigues. Tempos depois, voltou para o Conselho de Administração, na condição de Conselheiro.
A longa gestão de Donel sem dúvida deixou marcas profundas na Cooperativa. Pode-se até questionar atos e métodos de trabalho de Ignácio Aloysio Donel. Ignorá-lo, não.”
OS DEZ MOMENTOS DE GRANDE FELICIDADE
Ao fazer um retrospecto de sua trajetória de vida e do que vivenciou no setor cooperativista também nas páginas do livro dos 40 Anos da Lar ; Donel aponta o que ele próprio qualifica de “Os dez momentos de grande felicidade”:
+ “Em primeiro lugar, me sinto agraciado por uma felicidade permanente com minha esposa Atila e filhos Marino (in memoriam), Marieta, Mariano, Marlene e José Luiz que souberam apoiar-me na nossa cooperativa familiar.
+ O apoio e sucesso obtidos nos meus 10 anos de professor municipal e comunitário de Pinheiro Machado, município de São Paulo das Missões, durante os quais ajudamos a manter uma integração comunitária para a construção da nova Igreja e Grupo Escolar, além do preparo educacional de centenas de alunos que, ainda hoje, continuam me chamando de professor.
+ O início das atividades oficiais da Cooperativa em dezembro de 1965 e sua separação da Colonizadora Sipal, que nos deram a liberdade de exerce r o lema basilar do cooperativismo: um por todos e todos por um. O apoio e compreensão, decisivos, da maioria dos funcionários e dos cooperados de Missal, quando da transferência para Medianeira.
+ A reativação do Frigorífico Medianeira e a aquisição das unidades de leite- compra da Kamby de Matelândia-, permitindo nosso ingresso no processo de agroindustrialização. Neste mesmo tempo, em 1979, houve a solução dos graves problemas jurídicos em torno das Notas Promissórias Rurais e liberação das hipotecas sobre os lotes urbanos revendidos entre os moradores de Medianeira.
+ O recebimento da Carta de Adjudicação das mãos do juiz Jorge Sato, dando-nos o direito de propriedade jurídica sobre o acervo da massa falida da Oleolar, durante missa solene celebrada por dom Olívio Fazza e prestigiada pela maioria da população de Céu Azul.
+ Fundação da Cooperativa de Crédito Três Fronteiras, depois Sicredi Cataratas do Iguaçu, hoje Sicredi Vanguarda, em 17 de novembro de 1983.
+ A emoção e o apoio demonstrados na AGO de eleição da nova Diretoria e da minha despedida como presidente da Cotrefal, hoje Lar, no dia 8 de fevereiro de 1991.
+ As lições de vida cooperativista e o apoio ininterrupto que o sistema cooperativo me concedeu na presidência da Ocepar durante os anos de 1991 e 1992.
+ A simpatia e o decisivo apoio demonstrados pelas cooperativas de crédito rural nas decisões de organização e integração das mesmas e de implantação do Banco Cooperativo. Da participação e manifestação de seus dirigentes quando da AGO de eleição da nova Diretoria e da minha despedida como Presidente do Sicooper Central do Paraná.
+ O recebimento do título de Mérito Cooperativista concedido pela Ocepar, em julho de 1997, cuja honraria dediquei à minha esposa e filhos.
+ A felicidade que levo para o resto da minha vida, e que pretendo renovar em satisfação diária e constante com minha esposa e filhos, é a certeza de termos cumprido o nosso dever, com o compromisso de contribuir e colocar em prática as grandes lições de vida recebidas e oferecidas durante todos os dias de convivência dentro do sistema cooperativo.
Ignácio Aloysio Donel condecorado pela Acime
Imagem especial da distinção: Donel com a esposa Atila, ladeado pela presidente da Acime Rita, Família Simonatto e empresários do Biopark
RELEMBRANDO
Ao se despedir como Diretor Presidente da Cotrefal, hoje Lar deixou esta mensagem:
“A amizade e a cooperação, que nesses anos todos nos mantiveram unidos, continuem como estímulos a permanecermos unidos em espírito e pelo coração”
Medianeira, 02 de fevereiro de 1991