Memória Terrunha foi uma coluna de sucesso e reconhecimento no Jornal Mensageiro de 2011 a 2018, editada pelo professor-historiador Roberto Marin. Foram buscas de temas exclusivos evidenciando personalidades que deixaram marcas de suas trajetórias de vida. Vamos rememorar os temas mais importantes nesse site com intuito de eternizar o colunista e rememorar os registros. Vale lembrar que Roberto Marin iniciou sua escrita singular no Mensageiro em 1997 de forma variada e criativa e continuou. Fica aqui sempre nossos aplausos…Estreamos a reverência com:
“ANTIGOS MORADORES DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU”
Agricultores no Rio Grande do Sul, pioneiros desbravadores no Parque e Santa Rosa do Ocoí. A saga de aproximadamente 450 famílias de origem alemã que em duas décadas tiveram que fazer três grandes migrações.
O Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939, pelo presidente Getúlio Vargas, sempre teve a atual área de 185.262,5 hectares? Mentira. Em 72 anos de existência, talvez, a mais significativa ampliação ocorreu a partir de 1978, quando o último colono com posse de terra no interior do Parque foi retirado de uma área de 12.000 ha., sendo que quatro mil haviam sido desmatadas. Depois, só o fechamento definitivo da Estrada do Colono em setembro de 1986 deixaria o Parque com a área acima referida.
E os agricultores do Parque? É uma história praticamente esquecida, com raros registros históricos, mas com uma fantástica memória oral dos antigos moradores que atualmente residem no município de São Miguel do Iguaçu, distrito de Santa Rosa do Ocoí, comunidade de Santa Cruz e outras pequenas vilas da região que também abriga a tribo dos índios avás-guarani. Lá vivem as famílias Finkler, Schossler, Pelenz, Walter, Adam, entre outras. Praticamente todos os cerca de 2.300 habitantes da região de Santa Rosa do Ocoí têm uma ligação histórica e afetiva como morador, filho ou neto de quem trabalhou na roça, madeireiro, criador de gado, professor, aluno e comerciante no interior do Parque Nacional do Iguaçu.
PONTO DE PARTIDA: 1960 Segundo relatos, documentos e acervo fotográfico preservados pelo agricultor Maurício Nestor Schossler, 66 anos, morador da comunidade de Santa Cruz, um dos líderes dos colonos reassentados pelo Incra, e que trabalhou no Parque entre os anos de 1969 até 1977, fazendo parte das últimas quatro famílias que deixaram as terras federais, a “bronca” teve início em 1918. O empresário americano Percival Farquhar, através da Brazil Railway Company, havia construído no Sul do Brasil a ferrovia São Paulo – Rio Grande, causadora da Guerra do Contestado. Como um dos pagamentos da obra, a empresa teria direito a uma gleba de terra no Oeste do Paraná (12.000 ha.). Essas terras teriam passado para o Dr. Gaspar Coutinho, que delegou poderes para os Colonizadores Irmãos Zanus (região de Santa Rosa – RS) para ocupação da terra. E os Irmãos Zanus, prometendo milagres para os pobres agricultores, iniciaram a colonização.
“A viagem de mudança, extremamente difícil e perigosa, levava geralmente 14 dias até a passagem pela Estrada do Colono”, relata Schossler. Depois, o trabalho de abrir picadas, derrubar a mata virgem, construir moradias e fazer lavouras para o plantio do milho e da mandioca, base de alimentação para os porcos, principal fonte de economia. Contrariando outras informações, Schossler garante que somente “36 agricultores receberam escritura da terra dos Irmãos Zanus; os demais, só recibo de compra.”
Regulares ou irregulares, os agricultores foram chegando e três significativas vilas surgiram: São José do Iguaçu, Santo Alberto e São Luiz, todas no interior do Parque, nas proximidades da “curva” do Rio Iguaçu, entre os municípios de São Miguel e Foz do Iguaçu, proximidades da antiga Estrada de Guarapuava e das atuais comunidades de Linha Marfim, Guanabara, Indianópolis e Canavial.
O COTIDIANO As famílias moradoras do Parque Nacional do Iguaçu contavam com uma escola – a de São José que chegou a ter 171 alunos matriculados, igrejas, salão de festas, casas de comércio, serrarias, algumas fazendas, como a do popular Jacaré, e cemitérios. As famílias eram numerosas, de seis a dez filhos, e alguns casos especiais como o de Urbano Diel, composto por 16 filhos, o que projeta uma população superior a 2.000 habitantes. O trabalho na terra era na base das juntas de bois, no braço, no muque, como diziam. Como maquinário, a trilhadeira e, para acelerar o desmatamento, a famosa motosserra. Carne de caça era abundante. Inexistente era a presença dos adubos químicos e agrotóxicos.
A DENÚNCIA Rumores circulavam entre os moradores dizendo que “trabalham em terras ilegais”. Motivo de apreensão, principalmente depois das constantes presenças de aeronaves do IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Coube ao empresário e vereador Antonio Bordin denunciar na Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu a presença de colonos invasores no interior do Parque. Foi um tiro morteiro. Ecologistas e IBDF passaram a exigir a desocupação da área. O pedido foi aceito pelo governo do então presidente Médici, por volta de 1972. Para que não houvesse o simples despejo, o governo criou o Projeto PIC-OCOÍ.
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Maurício Schossler – Antigo líder dos moradores do Parque, guardião da memória oral, documental e fotográfica
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Vista de Santo Alberto
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Vista total de São José do Iguaçu
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Vista aérea da Volta da Taquara, sendo ao fundo à esquerda, moradia de Maurício Schossler
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Fazenda do popular “Jacaré”, perto da comunidade de São José do Iguaçu
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Comércio de Ladislau em São José do Iguaçu
*Pela sua contribuição histórico-cultural para Medianeira a Casa da Memória foi oficializada com seu nome “Casa da Memória Roberto Antonio Marin.”