Ave foi transferida a pedido da instituição para formar casal com uma fêmea do local.
Uma harpia macho, nascida e criada em Foz do Iguaçu (PR), viajou quase 1.500 km na tarde da sexta-feira (20) com destino a Goiânia (GO). A ave de oito anos, que faz parte do programa de reprodução de harpias do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), mantido pela Itaipu Binacional, ganhou uma nova casa no Jardim Zoológico da capital goiana, onde terá, também, uma companheira.
De acordo com o biólogo do RBV, Marcos de Oliveira, a transferência de animais entre instituições faz parte de um trabalho de proteção da espécie que reúne entidades de todo o país para formar casais aptos a procriar e aumentar a população de aves. Essas trocas buscam aumentar a variedade genética dos casais e, com isso, gerar filhotes com mais condições de sobrevida saudável.
Existem hoje em torno de 230 harpias distribuídas entre 40 instituições brasileiras, e uma rede de profissionais faz o recenciamento dessas aves. “Foi uma solicitação do zoológico, um processo que está dentro do programa de conservação de harpias nacional. A ideia é parear harpias que estão sozinhas. Eles tinham uma fêmea lá em condição reprodutiva e, como tivemos sucesso com reprodução aqui nos últimos 20 anos, temos condições de enviar animais que não são aparentados e organizar a população de harpias para ter um plantel de animais em período reprodutivo”, explica o biólogo.
E o trabalho de parceria entre as instituições segue mesmo após a transferência da ave. “Nós acompanhamos a chegada e fazemos as orientações para a equipe do zoológico, porque a formação do casal demora de seis meses a um ano, e os animais precisam ser aproximados de forma lenta. É preciso observar os comportamentos condizentes e ver se vai dar o famoso ‘match’”, brinca, comemorando a possibilidade de formação de mais um casal da espécie.
Cuidados no transporte – A harpia saiu de Foz do Iguaçu no dia 20, a bordo de um avião da Latam, por meio do programa Avião Solidário, que faz o transporte gratuito de animais silvestres no País. A ave foi transportada em uma caixa de madeira especialmente confeccionada, com forro de grama sintética no chão e um tapete higiênico, além de pequenas janelas para visualização e recipientes para água e comida. Tudo é feito para dar conforto e segurança para a ave durante o trajeto.
Para atestar a saúde e as boas condições do animal para a viagem, antes do embarque são realizados uma inspeção detalhada e exames de sangue. “Avaliamos cavidades, capacidade cardiorrespiratória, verificamos se ela está com uma boa condição corporal e coletamos amostras para ter certeza de que está bem”, aponta a veterinária do Refúgio Biológico, Aline Luiza Konell.
Segundo ela, não há um padrão de exames específicos e cada instituição faz a sua avaliação de saúde do animal, mas há um protocolo sanitário que costuma ser adotado para garantir o bem-estar e os veterinários de ambas as instituições – origem e destino – mantêm contato para garantir o cuidado antes e logo após a viagem.
Sobre o projeto – Desde sua criação, a Itaipu Binacional possui ações de conservação da biodiversidade focadas na Mata Atlântica da região do Rio Paraná. O trabalho de restauração de áreas florestais e proteção da fauna visa permitir o fluxo de vida no entorno do reservatório. Um dos principais exemplos é o cuidado com as harpias.
Há mais de 20 anos o Refúgio Biológico Bela Vista mantém harpias sob seus cuidados. A primeira ave a chegar no local foi um macho, resgatado depois de ter sido abandonado à beira de uma rodovia em Foz do Iguaçu, provavelmente vítima do tráfico de animais. A partir dele e de uma fêmea transferida do zoológico de Brasília, a instituição iniciou o trabalho de procriação. Até 2023 já haviam nascido 56 harpias no local.
Hoje o RBV é a única instituição com reprodução continuada da espécie e a única no mundo que possui duas gerações, ou seja, com filhotes de aves já nascidas em cativeiro. Isso dá ao Refúgio a autorização para exportar harpias para criadouros em outros países. De Foz já saíram casais de harpias para França e Alemanha, além de outros indivíduos para zoológicos e criadouros de diversos estados do Brasil. (Assessoria – Fotos: Rubens Fraulini / Itaipu Binacional)